Toda dor, por pior que seja, passa. Talvez por isso que a gente peça que ela passe logo. Pode ser a maior dor - dor mais doída - contanto que seja rápida, e vá embora. Dor pequena, mas que perdura, é sofrimento demais. Dor que não passa, que fica, pode até ser dor boba, mas acaba com a gente. Talvez por isso que a gente chore mais a perda brusca - mas sinta mais a perda esperada.
Se você tem algo e perde, do nada, você fica triste. Fica chateado. Nervoso. Fica o que tiver que ficar. Faz o que tem que fazer. E passa. Se você sabe que vai perder algo, você já o perdeu, no momento que soube. O restante do tempo que tem com aquilo não é completo, é falho. Você pensa como será sua vida sem, se você pode fazer algo pra continuar com, porque você tem que perdê-lo, deixá-lo. E uma hora ele se vai. Aí você pensa se poderia ter sido diferente, como era a vida antes de, como será depois... Nunca passa.
E por que algo, e não alguém? Porque as pessoas, de fato, nunca nos pertencem. Nunca as possuímos. Mas temos a ilusão de que quem amamos sejam nossos, na verdade. E aí a dor da perda é a mesma.
Morte repentina? Muito choro, muita tristeza, muita dor. Mas passa. Tudo na vida passa, inclusive a morte. Mas a morte esperada, essa não dói, castiga. Castiga que morre aos poucos, castiga quem morre junto, mesmo que só um pouco. Mesmo que pela metade. E você tenta fazer diferente, e se preparar pra perda, mas nada adianta. Talvez chore pouco. Mas sente muito, muito mais.
O rompimento inesperado? Lágrimas, muitas lágrimas. E raiva, e mágoa, e gritos (por que não?), o pacote completo. Mas acaba. Tudo acaba. O bom e o ruim. A vida segue. O laço que se desmancha lentamente. É uma agonia. Quando o outro está lá, mas ao mesmo tempo não está. Quando seu amigo de infância se torna um desconhecido. Tudo isso na nossa frente, a nossa vista. E não há nada a ser feito. A aliança que já não representa nada. A partilha dos bens, quando você percebe que ele te ensinou a ouvir aquele artista, e ao mesmo tempo, como você pode suportar aquele outro por tanto tempo? Está tudo lá, mas ao mesmo tempo não é mais nada. E quando acaba, mesmo assim sobram pedaços. Um papel que falta assinar, uma caixa que ele esqueceu...
O repentino parece pior. Mas o que vem rápido, vai rápido. Dura é a dor que se arrasta...
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