Sabe o que é perene?! O dicionário Michaelis define como: "Que não tem fim; eterno, perpétuo. Incessante, ininterrupto, contínuo." Acredite: por muito tempo eu achei que essa palavra significasse justamente o contrário disso.
Agora, o que é sereno?! Novamente o Michaelis: "Calmo, sossegado, tranqüilo. Que indica serenidade, tranqüilidade e paz de espírito; calmo, isento de inquietações e de perturbações." Além, é claro, do sentido maternal da palavra: "Menino, vai sair nesse sereno?!" rsrsrs
E por que eu estou falando dessas duas palavras?! Primeiro, porque eu sempre relaciono uma com a outra, sei lá a razão - talvez pela semelhança sonora das duas, vai saber?! E também, porque acontecimentos recentes me fizeram pensar nas duas.
Todos os funcionários aposentados da USP serão mandados embora. (Oi?! Tá faltando alguma explicação aqui?! Bora lá).
Eu trabalho na USP. Quer dizer que eu sou funcionária pública?! Mais ou menos... Passei num concurso público?! Sim!!! Sou estável?! Não... A USP não é exatamente um órgão público, está mais para uma autarquia - algo que, se um dia eu entender direitinho, eu explico pra vocês. Voltando ao assunto: Fora os docentes (eles não são professores, tá?! São docentes... #luxo), todos os funcionários são contratados pelo regime celetista (CLT, quem trabalha sabe o que é; quem não trabalha é feliz por não saber). Ou seja, somos iguais a qualquer funcionário (registrado) de empresas privadas - só que passamos numa prova pra estarmos aqui.
Agora, os aposentados. Nesse momento deixamos de viver no Mundo Encantado, Terra do Nunca, País das Maravilhas ou OZ. A vida - mas principalmente o trabalho - não é um conto de fadas. Você não vai completar 50 anos, ter trabalhado 30, se aposentar lindamente e passar o resto da sua vida na sua casa de praia. Não. Você vai trabalhar muito mais que isso, se aposentar quando estiver morrendo, e não vai ter uma casa na praia (sinta-se grato se tiver uma casa própria).
Então, você se aposenta. Você gosta de continhas?! Eu também não, mas elas são importantes e nós vamos usá-las agora. Você recebe o teto (máximo) da aposentadoria (R$ 3.689,66 de acordo com notícias recem-tiradas da net), se contribuiu por X (considere X um valor real e grande que eu não sei te informar agora) anos com 11% desse valor (calculadora do Windows - amo! - diz: R$ 405,79). Ou seja, R$ 405,79 do seu salário vai pro INSS, todos os meses, durante toda a sua vida (exagerei agora, mas é quase isso), pra um dia se aposentar e ganhar R$ 3.689,66. Agora me responda: Você está ganhando o suficiente para comprometer 400 reais do seu salário pro INSS?! Nem eu. Mas mesmo que esse fosse o caso, não é assim que funciona. Isso desconta da sua folha de pagamento (Hollerith, pros mais antigos - ou mais frescos) automaticamente. Só te descontam 11% se você está na faixa dos 11%. Quer saber em que faixa você está?! Joga no Google - eu não vou facilitar a sua vida.
Pensa que acabou?! Nada. É mais fácil você morrer antes de se aposentar. Isso porque as leis humanas (não desse ou daquele político, mas de todos) visam o benefício próprio e não o da população. Então, além de ganhar pouco por causa da matemática, você ganha mal por causa da política.
Então, chegamos ao "x" da questão (esse não representa nenhum valor, a matemática ficou lá em cima - Aleluia!): muitos aposentados continuam trabalhando - inclusive aqui na USP.
Quer dizer, trabalhavam. Nosso "querido" reitor (entendam o "querido" com o máximo de ironia e sarcasmo possível, por favor) vai por todos eles na rua. Todos. Não de uma vez só, porque além de ser um rombo no orçamento (não vou explicar passo-a-passo sobre demissão, mas saibam que quem é demitido tem alguns direitos - risos), é um rombo no funcionamento da universidade - as línguas dizem que por volta de 5 mil funcionários estão nessa situação. Mas mais cedo ou mais tarde todos vão. Você trabalha uma vida, aposenta mas continua trabalhando (porque é impossível viver só de aposentadoria nesse país), até um sujeito resolver que você vai curtir a sua aposentadoria - e embora não esteja entre aspas, curtir também é muito irônico.
E onde eu entro nisso tudo?! Eu, que às vezes me confundo se tenho 21 ou 22 anos (é a primeira opção até março...), que estou feliz porque faz mais de um ano que estou aqui (histórico de trabalho: recepcionista - 6 meses; secretária de escola - 4 meses), vou tirar minhas primeiras férias do trabalho em abril, o que eu tenho a ver com isso?!
Volta pro começo do post. Quando eu era mais nova (não faz tanto tempo assim, vai...) achava que perene era algo passageiro. Mas não é. Perene significa ininterrupto, eterno - coisa que nenhum emprego é. Nós achamos que é. Pensamos tolamente que é. Nos enganamos dizendo pra nós mesmos que isso não acontece conosco - só com os outros. E quando eu vejo uma mulher de 50 anos chorar porque não sabe o que lhe aguarda, pensando nas filhas, no emprego, no salário, eu entendo que isso acontece com todo mundo.
E pode ser comigo amanhã. Agora ele manda embora os aposentados. Depois ele pode mandar embora os celetistas (lembra?! Eu não sou estável). Ele pode me mandar embora. Eu, que ainda nem comprei um carro, que não economizei nada todo esse tempo (vergonha!), que ainda quero (e vou!) fazer tanta coisa...
E nessa hora eu lembro da segunda palavra. Não adianta se angustiar pelo que há de vir. Não adianta pensar desesperadamente no que pode acontecer. Não adianta. Porque eu não posso prever o futuro. Nós precisamos nos preparar pro futuro; mas nunca deixar que ele seja nossa única preocupação.
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