Em algum canto de mim morava a certeza tolamente romântica de que, quando se tornasse realidade, ele curaria minha ansiedade inerente e instalaria a tranqüilidade tão desejada, necessária. Mas isso não aconteceu. Nunca uma pessoa apaziguou meu tumulto. Então teria sido amor?
Os fatos – tão repletos de ausência de sentido em tantos momentos – que me deixam incrédula, rancorosa, triste, seriam apenas pequenos contratempos sem importância comparados ao brilho e à dimensão que a entrada do amor daria a minha vida. Alguns homens passaram por mim, mas a ocasional frustração e a raiva causadas por palavras ferinas e atos escusos – e a inevitável decepção atrelada a eles – nunca deixaram de me assolar. Se a presença de nenhum deles tornou insignificante minha angústia, teria sido amor?
Jamais desejei, com urgência e paixão uterinas, ter filhos com um homem nem sonhei com uma grande mesa repleta de netos, noras e genros. Também não me imaginei, idosa, ao lado dele a passear pela rua. E me senti uma subespécie de mulher, isolada do resto da humanidade portadora de belos desejos a longo prazo: se nunca vislumbrei esse futuro conjunto, teria sido amor?
Demorei para aprender, mas hoje compreendo o significado de amar. O meu significado. Amar alguém é curtir o correr dos dias ao lado dele, tirando, a cada oportunidade, o peso devastador das expectativas, porque é da leveza que nasce a harmonia. É sentir (e não saber – o que faz toda a diferença) que ele precisará da minha ajuda tanto quanto eu de um ombro para descansar; que o fim não mede a beleza de uma relação, assim como a morte não anula quem fomos; que nada, nem ninguém, arrancará de mim as sensações que me fazem ser quem sou (e que precisarei, sozinha, não destruí-las, mas lidar com elas); entender que a obrigação de me salvar é absolutamente minha.
Amar alguém é ter a liberdade de ser.
Ailin Aleixo
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