terça-feira, 27 de julho de 2010

Brown Penny


I WHISPERED, 'I am too young.'
And then, 'I am old enough';
Wherefore I threw a penny
To find out if I might love.
'Go and love, go and love, young man,
If the lady be young and fair.'
Ah, penny, brown penny, brown penny,
I am looped in the loops of her hair.


O love is the crooked thing,
There is nobody wise enough
To find out all that is in it,
For he would be thinking of love
Till the stars had run away
And the shadows eaten the moon.
Ah, penny, brown penny, brown penny,
One cannot begin it too soon.

William Butler Yeats

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Histórias


“Que fazemos, em geral, nós que escrevemos? Contamos histórias. Contam histórias os romancistas, contam histórias os dramaturgos, contam histórias os poetas, contam-nas igualmente aqueles que não são, e não virão a ser nunca poetas, dramaturgos ou romancistas. Mesmo o simples pensar e o simples falar cotidianos são já uma história. As palavras proferidas, ou apenas pensadas, desde o levantar da cama, pela manhã, até o regresso a ela, chegada a noite, sem esquecer as do sonho e as que ao sonho tentaram descrever, constituem uma história com coerência própria, contínua ou fragmentada, e poderão, como tal, em qualquer momento, ser organizadas e articuladas em história escrita.”

José Saramago, em uma conferência que fez em 1997, na Universidade Goethe, em Frankfurt.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Do alto


Um metro e sessenta e três e meio. Essa é a minha medida numa sexta-feira em que acordo cansada. Na segunda, provavelmente terei crescido oito ou dez centímetros. Preciso ser alta umas três ou quatro vezes por semana.
Não me faltam opções. Saltos finos, grossos, redondos, quadrados, retos ou curvos, com ou sem plataforma, sensuais ou clássicos, em modelos abertos ou fechados. O salto alto, sim, é o melhor amigo de uma mulher, já que os diamantes não são para qualquer uma. E os diamantes, ah, os diamantes, não deixam nenhuma panturrilha musculosa num piscar de olhos.
Quando acordo me sentindo glamurosa, coloco um salto pra ficar de acordo. Quando acordo exausta, coloco um salto pra levantar o ânimo. Depois de um fora, o salto é perfeito para disfarçar o moral lá embaixo. Distraído com uma perna bem torneada, quem irá notar um coração destruído?
Em cima de um salto não sou alguém que acorda exausta todas as manhãs, nem a que se preocupa em sortear a conta em atraso do mês. Em cima de um salto, ergo a cabeça e sigo em frente. Não ando: flutuo. Passeio, fluida, por uma elegante irrealidade, povoando em câmera lenta o imaginário de quem fica.
Não paro para olhar, mas sinto que isso acontece. Por alguns segundos, até fecho os olhos para imaginar as cabeças girando noventa a cento e quarenta e cinco graus em minha direção. Mas logo os abro de novo, pois os saltos podem ser perigosos. E sigo em frente, cabeça erguida, humilhando com charme quem fica para trás. E o que caminha comigo é a fantasia de cada um. Com direito a trilha sonora.
Isso, se eu não cair.
Porque aí a imagem fica mais lenta e merece replay.
Foi o que aconteceu outro dia, quando retornei lânguida e loira à mesa que eu ocupava num restaurante. Eu usava uma inocente sandalinha de salto médio, que parecia inofensiva. Mas a tábua corrida e a cera haviam se unido contra mim. E lá se foi a minha sandália patinando pela madeira encerada. E o que virou noventa graus foi meu pé direito, que me levou a deslizar alguns metros, apoiada sobre um tornozelo torto que fazia as vezes de planta do pé. E o movimento em slow motion que não era dos pescoços alheios, mas das minhas pernas se abrindo em desengonço. 
Uma cena digna dos programas de fim de domingo. 
Em minha memória, aqueles segundos parecem ter durado alguns minutos. Ainda ouço o som das cadeiras pesadas e da mesa que arrastei comigo, numa queda-dominó interminável.
Se foi inesquecível para mim,  que dirá para os outros. Está certo que doeu mais em mim, especificamente na alma, já que o tornozelo ralado e o joelho direito só me levaram a mancar algum tempo depois.
Gosto de me lembrar do momento em que abri de novo os olhos e vi um senhor de cabeça branca, de prontidão, preocupado em verificar quantos e quais tinham sido os estragos. Quando ele finalmente me alcançou – custei a parar –, eu estava como o John Travolta ao final de uma coreografia em Saturday Night Fever. Com uma diferença: eu usava um vestido tomara-que-caia, cuja saia em lápis subiu até o meio da coxa durante a queda.
Gosto de imaginar cada segundo daquela longa cena. De me lembrar da demora em enxergar alguma coisa e de quando eu finalmente olhei para cima e vi aquele senhor. Gosto de recordar a expressão dele. E me pego com um risinho no canto da boca, a reviver pequenos flashes daquele episódio ridículo que passa a integrar o meu inventário de casos para contar.

Cris Guerra

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Filho

Amo-te tanto, filho querido
Amo-te como um filho já nascido
Amo-te como um filho já gerado
Vejo-te já como meu filho amado

É amor por aquele que ainda nem vive
É o amor mais seguro que tive
É sem cobranças e sem promessa
É sem ter ânsia, sem ter pressa

É amor pelo que não se sabe
É saber o que ainda não é
Espera que esse amor nunca acabe
Junto com amor é também fé

E quero que nasça, que cresça, e que seja
Que alcance tudo aquilo que almeja
E tenha certeza que eu te apoiarei
Pois você é tudo o que sempre almejei

terça-feira, 6 de julho de 2010

Princesa Punk

Com suas tatuagens a mostra
Rosto de menina
Cheia de piercings
Sorriso fácil
Você é a minha princesa punk

Voz suave
Gritos histéricos
Muda de estilo como quem muda de roupa
Mas atravessa eles como se conhecesse a floresta
Você é a minha princesa punk

Você erra e acerta
Você nunca erra
Você sempre acerta
Você acerta e erra
Você é a minha princesa punk

Segredos.

Qual das minhas faces você quer mesmo ver?
E qual dos meus mistérios você quer conhecer?
Eu me transformo em várias,
mas eu não sou nenhuma.
E se eu pudesse sê-lo,
escolheria alguma?

Sou ao mesmo tempo
Poetisa e musa.
No enigma da esfinge,
ou no olhar da medusa.

Ao mesmo tempo que lhe agrado
Também sei que te apavoro.
E assim peço simplesmente:
"Decifra-me ou te devoro."