sábado, 21 de abril de 2012

Finde Perfeito

Eu acordei meio-dia. Porque minha mãe às onze e meia me perguntou: "Tá tudo bem?!" Faltou-me ânimo pra responder: "Tá não..." Separei as apostilas para estudar. Nisso já era uma da tarde. Fiz o arroz, tomei banho, almocei. Duas horas. Já havia me mudado para o quarto dos pais quando o meu pai querido diz: "Eu vou tirar um cochilo, mas pode continuar aqui." Melhor não, pensei comigo. Mudei-me para a sala. Ele não deita. Em vez disso, fica entrando e saindo (pela porta da sala), e falando alto com a minha mãe e minha tia (ainda na sala). Eu volto pro quarto - sou esperta o suficiente pra ir só com a apostila que estou lendo, o caderno e uma caneta. Ele resolve se deitar. Respondo a uma questão. Três horas. Começo a ler outra apostila. Meus parentes estão fazendo toda a gritaria e barulheira que antecede a saída deles. Os cachorros entram no coro. Eles vão embora. A apostila é um pé no saco. Tento outra. Ainda outra. Só mais uma. Resolvo ler os resumos das epopeias.  Percebo que consigo responder (mesmo que mais-ou-menos) à primeira pergunta. Minhas pernas formigam. Eu levanto. Como um chocolate (não me julguem). Respondo a questão. Chega uma amiga da minha mãe. Cinco horas. Vamos ao mercado.


Se Homero e Virgílio não estivessem já bem mortos, eu matava eles...

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Os Corvos


A última estrofe do poema "O Corvo", de Edgar Allan Poe, em inglês e em três versões em português.




Original

And the Raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
On the pallid bust of Pallas just above my chamber door;
And his eyes have all the seemimg of a demon's that is dreaming,
And the lamplight o'er him streaming throws his shadow on the floor;
And my soul out that shadow that lies floating on the floor.
Shall be lifted - nevermore!

 

Fernando Pessoa

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha dor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais,
E a minh'alma dessa sombra, que no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!

 

Haroldo de Campos

E o corvo, sem revôo, pára e pousa, pára e pousa
No pálido busto de Palas, justo sobre meus umbrais;
E seus olhos têm o fogo de um demônio que repousa,
E o lampião no soalho faz, torvo, a sombra onde ele jaz;
E minha alma dos refolhos dessa sombra onde ele jaz
Ergue o vôo – nunca mais!

 

Machado de Assis

E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e, fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!

 

terça-feira, 17 de abril de 2012

Me Perder

Cada vez que promete me ganhar
Você só me perde, mais e mais
Toda vez que você diz "pode apostar"
Eu só caminho e te deixo pra trás

Sereia

Imortaliza tua lenda, Sereia
Mas o teu canto eu não posso ouvir
Cauda de peixe, asas de pássaro? Não creio
Que eu possa realmente te definir

Teu Beijo

Rugido de Leão
Picada de Escorpião
É o efeito do teu beijo
Pro meu pobre coração

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Letra

A letra é um desenho
Que cada um tem o seu
Se a máquina o faz por mim
Aquilo será mesmo meu?!

Culpa

A culpa me aflige
Por um mal que eu escolhi fazer
A culpa me define
Aquele mal que eu decidi ser

segunda-feira, 9 de abril de 2012

(In) Felicidade

Esfrega na minha cara
Tua felicidade pura
Tua alegria rara
Faz-me devastada e nua

Números

Somos inúmeros
Singulares, plurais
Dezenas, centenas, milhares, milhões
Ímpares, pares
Combinações
Aleatórios (será mesmo?!)
Cardinais, ordinais
Fracionados
Decimais
Multiplicados, divididos
Somados, subtraídos
Racionados, potencializados
Somos calculados
Resolvidos
Contestados
Provados
Analisados
Jogados (num plano cartesiano)
Somos infinitos.

Isso

Era pra eu pensar no trabalho, nas aulas, nas consultas, na limpeza da casa, nas contas, nas férias, nas viagens, nos compromissos, nas reuniões...
Era pra eu pensar em tudo, tudo mesmo. No amor, na felicidade, na vida. No desprezo, na tristeza, na morte.
Era pra eu pensar em nada.
Mas não era pra eu pensar nisso.
É só no que penso.