segunda-feira, 17 de março de 2014

O Aeronauta

I

Agora podeis tratar-me
como quiserdes:
não sou feliz nem sou triste, 
humilde nem orgulhoso
- não sou terrestre. 


Agora sei que este corpo,
insuficiente, em que assiste
remota fala,
mui docemente se perde
nos ares, como o segredo
que a vida exala. 


E seu destino é ir mais longe,
tão longe, enfim, como a exata
alma, por onde
se pode ser livre e isento,
sem atos além do sonho,
dono de nada,


mas sem desejo e sem medo,
e entre os acontecimentos
tão sossegado!
Agora podeis mirar-me
enquanto eu próprio me aguardo,
pois volto e chego,
por muito que surpreendido
com os seus encontros na terra
seja o Aeronauta.


Cecília Meireles

Um comentário:

Anônimo disse...

pretty nice blog, following :)