quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O Pirata

 


Um dia a Sra. Smith estava sentada na ante-sala do consultório médico quando um garotinho e sua mãe entraram. O menino chamou a atenção da Sra. Smith porque usava um tapa-olho. Ela ficou maravilhada pelo fato de ele não parecer ter sido afetado pela perda de um olho e o observou enquanto acompanhava a mãe até uma cadeira próxima.


O consultório estava muito cheio naquele dia, de modo que a Sra. Smith pôde conversar com a mãe do menino enquanto ele brincava com seus soldadinhos. No começo, ficou sentado calmamente, brincando com os soldadinhos no braço da cadeira. Depois, sentou-se tranqüilamente no chão, olhando para cima, para sua mãe.


Finalmente, a Sra. Smith teve a oportunidade de perguntar ao menino o que havia acontecido com seu olho. Ele analisou a pergunta durante um longo instante e, em seguida, respondeu, levantando o tapa-olho:


- Não há nada errado com meu olho. Sou um pirata! E voltou para sua brincadeira.


A Sra. Smith estava ali porque havia perdido a perna, do joelho para baixo, em um acidente de carro. Sua consulta naquele dia era para determinar se o joelho já cicatrizara o suficiente para ser encaixado numa prótese. A perda fora devastadora para ela. Mesmo tentando ao máximo ser corajosa, sentia-se uma inválida.


Intelectualmente sabia que a perda não deveria interferir com sua vida, mas, emocionalmente, não conseguia superar esse obstáculo. O médico sugerira visualização e ela experimentara, mas não fora capaz de visualizar uma imagem emocionalmente aceitável e duradoura. Em sua cabeça via-se como uma inválida.


A palavra "pirata" mudou sua vida. Foi instantaneamente transportada. Viu-se vestida como Long John Silver, de pé no convés de um navio pirata. Estava parada, com as pernas abertas, sendo que uma perna era de pau. As mãos seguravam os quadris, a cabeça estava levantada, os ombros para trás e ela sorria no meio da tempestade.


Ventos com a força de um furacão chicoteavam o casaco e o cabelo. A espuma gelada era soprada por cima da balaustrada do convés e grandes ondas se quebravam contra o navio. O barco balançava e gemia sob a força da tempestade. Ainda assim ela se mantinha firme, orgulhosa, impávida.


Naquele momento, a imagem de inválida foi substituída e sua coragem voltou.


Olhou para o garotinho, ocupado com seus soldados.


Alguns minutos depois, a enfermeira a chamou. E, quando se balançou nas muletas, o garotinho percebeu sua amputação.


- Ei, moça - chamou-a. - O que há de errado com a sua perna?


A mãe do menino ficou petrificada.


A Sra. Smith olhou durante um instante para a perna diminuída. E respondeu com um sorriso:


- Nada. Também sou pirata.


 


Marjorie Wally

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

As Sem - Razões do Amor





Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.


Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.


Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.


Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.



Carlos Drummond de Andrade


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Quando aprendi a dizer eu te amo

 

Ele era só um colega de trabalho. Que a cada manhã abraçava as pessoas para um bom-dia e um beijo, fosse homem ou mulher. "Linda", era como ele se referia à mãe ao falar com ela por telefone. Não raro, se despedia dizendo "Eu te amo". Gostar dele foi fácil. Em pouco tempo éramos amigos a trocar histórias. (E amigos sentem o amor mais bonito que se pode amar.) Um dia, depois de contar a ele algo que me entristecia, recebi um e-mail: "Eu amo você". Não era uma declaração romântica, eu sabia disso. Mas fiquei olhando para a tela, tentando disfarçar certo constrangimento. Ele era casado, eu também. Meses depois, as coisas mudaram. Numa festa de trabalho, ele falou da paixão que sentia por mim. Eu já havia esquecido aquele e-mail — que era apenas uma prova da pessoa especial que ele era. O primeiro "Eu te amo" era amor puro, sem sedução. O segundo, sim, tinha uma dose de paixão. Ele me ensinou a falar de amor. Amor que esteve presente do início ao fim em uma história que teve curtos dois anos de duração – ou, dependendo do ponto de vista, uma história para sempre. É que antes de deixar esse mundo ele me deixou um filho. Um jeito definitivo de falar de amor.Foi para esse filho que recitei o meu amor por seis ou oito vezes, ao sair da garagem outro dia, pela manhã, e ver sua cabecinha na janela para se despedir. Não me lembro de ouvir minha mãe gritando essa frase pra mim de onde quer que ela estivesse. Venho de uma família amorosa, mas que costumava reservar as palavras de amor para cartas escritas em datas especiais — que líamos com lágrimas nos olhos e certa timidez. Faz pouco tempo que me permito falar rasgado. Sim, falar. Não escrever num cartão ou sussurrar no ouvido de alguém. A-mo-vo-cê. Não para mandar com flores, mas pra fazer flores com as palavras. Não só para amores do sexo oposto, eleitos pra dividir a vida com a gente. Mas para todos os que verdadeiramente amamos. São muitos. Amamos quem divide com a gente um dia de trabalho. Amamos quem nos faz rir. Amamos quem dá ou aceita ajuda. Amamos quem sabe ser carinhoso. Existe amor em nós e é bom falar sobre ele. É energia que se multiplica e torna melhor o dia, o tempo, a vida. Certa vez, convivendo com a família do pai do meu filho, já sem a sua presença, ouvi da mãe dele um "Amo você”. Hoje, digo a eles o mesmo. Falar de amor me transformou para sempre. Com o tempo e os fatos, reparei que meus irmãos e amigos também aprenderam. Acho que a vida ensina, ao roubar de nós momentos e pessoas. Passamos a entender que o tempo não volta. É melhor ter a certeza de ter dito o que sentimos. Quando decidi escrever sobre isso, cheguei em casa tarde e havia festa no prédio — meu humor piorou quando notei que o repertório era sertanejo. Não houve como não ouvir os convidados cantando "Amigos para sempre" em uníssono, provocando em mim uma alegria que me pegou de surpresa. “Devo estar ficando velha”, pensei.


É o contrário: finalmente estou jovem porque agora entendo.

 


 

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Soul To Squeeze

 

I got a bad disease
Up from my brain is where I bleed
Insanity it seems
Has got me by my soul to squeeze

Well all the love from me
With all the dying trees I scream
The angels in my dreams, yea
Have turned to demons of greed that's me

Where I go I just don't know
I got to got to gotta take it slow
When I find my peace of mind
I'm gonna give you some of my good time

Today love smiled on me
It took away my pain, said please
I'll let your ride be free
You gotta let it be oh yea

Where I go I just don't know
I got to god I gotta take it slow
When I find my peace of mind
I'm gonna give you some of my good time

Oh so polite indeed
Well I got everything I need
Oh make my days a breeze
And take away my self-destruction

It's a bitter berry and its very sweet
I'm on a roller coaster
But I'm on my feet
Take to the river lay me on your shore
'Cuz I'll be comin' back baby I'll be comin' back for more

Diddle doddle ding a zing a zong zong a zing a zoma zoma zoma con don bing
I can not forget but I will not endeavor simple pleasure are more special but I wont regret it never

Where I go I just don't know
I got to got to gotta take it slow
When I find my peace of mind
I'm gonna give you some of my good time

Where I go I just don't know
I might end up somewhere in Mexico
When I find my peace of mind
I'm gonna keep it for the end of time

 

Red Hot Chili Peppers

 







sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Motivo


Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.

Irmã das coisas fugidias,
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
No vento

Se desmorono ou se edifico,
Se permaneço, ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa rimada.
E um dia sei que estarei muda:
- mais nada.

(Cecília Meireles)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A quem interessar possa

 

Há tempos estou pra lhe falar algumas coisas. Tudo tem ficado muito confuso, cada vez mais sinto que você me alcança menos e acho que esclarecer algumas coisas pode ajudar. Você diz que me ama, mas talvez  esteja enganado. O amor compreende, e o amor só ama de verdade aquilo que o completa. Talvez você ame quem você é quando estou por perto. Talvez você ame apenas a idéia que tem de mim, e isso não sou eu. Isso é você querendo que eu caiba nos seus anseios, nos seus desejos. Vê? Isso é você amando a si mesmo. Essa é a soma das suas perspectivas, que muitas vezes não condiz com o real. Nesse caso, não tendo eu outra alternativa além de ser o que eu sou, a você restam duas opções: me ame, ou me deixe. Me queira com tudo o que eu tenho de bom e de ruim, com todas as idiossincrasias e as pequeninas coisas que muitas vezes você nem considera correto. Entenda que eu não escolhi e nem tenho culpa de ser cavalo selvagem:  o fato de você conseguir cavalgar comigo depende unicamente da sua destreza. Entenda que eu sou como um gato, variável , inconstante, mas sempre honesto: uma vez que se sabe lidar com ele é garantia de carinho e apego eterno. Caso contrário, arranhões e comportamento arredio são inevitáveis. Caso contrário, se prepare pra me ver fugir ou te ignorar. Quem quer conviver com bichos selvagens deve estar preparado para as intempéries. No mínimo existe a garantia de surpresa e nenhuma previsibilidade, nunca se sabe o que pode acontecer. Pra uns isso pode parecer desesperador, para outros é apenas imensamente emocionante. É sempre seu direito botar na balança e decidir se quer viver assim na corda bamba, numa aventura sem roteiro pré-estabelecido. Mas se me quer por perto, deixa-me ser.  Não me tome por pretensiosa por falar desse jeito sobre mim mesma.  É apenas uma tentativa de que eu e você descubramos se existe realmente algum laço real, ou se ele é feito de filó. Decifra-me, ou te devoro. Sem dó nem piedade.

 

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

I Will Survive

 

At first I was afraid, I was petrified,
Kept' thinkin' I could never live without you by my side,
But then I spent so many nights thinkin' how you did me wrong,
And I grew strong, and I learned how to get along,

And so you're back, from outer space,
I just walked in to find you here with that sad look upon your face,
I should've changed that stupid lock,
I should've made you leave your key,
If I had know for just one second you'd be back to bother me,

Go now go, walk out the door,
Just turn around now, cause you're not welcome anymore,
Weren't you the one who try to hurt me with goodbye,
Do you think I'd crumble, do you think I'd lay down and die,
Oh no not I, I will survive,
For as long as I know how to love I know I'll stay alive,
I've got all my life to live; I've got all my love to give,
And I'll survive, I will survive,
Hey, Hey!

It took all the strength I had not to fall apart,
And trying hard to mend the pieces of my broken heart,
And I spent oh so many nights just feeling sorry for myself,
I used to cry, but now I hold my head up high,
And you'll see me, somebody new,
I'm not that chained up little person still in love with you,
And so you felt like droppin' in and just expect me to be free,
Now I'm savin' all my lovin' for someone who's lovin' me,

Go now go, walk out the door,
Just turn around now, cause you're not welcome anymore,
Weren't you the one who try to break me with goodbye,
Do you think I'd crumble, do you think I'd lay down and die,
Oh no not I, I will survive,
For as long as I know how to love I know I'll stay alive,
I've got all my life to live; I've got all my love to give,
And I'll survive, I will survive,

Go now go, walk out the door,
Just turn around now, cause you're not welcome anymore,
Weren't you the one who try to break me with goodbye,
Do you think I'd crumble, do you think I'd lay down and die,
Oh no not I, I will survive,
For as long as I know how to love I know I'll stay alive,
I've got all my life to live; I've got all my love to give,
And I'll survive, I will survive,
Hey, Hey!

 

 

Gloria Gaynor